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O Despertar

Quando Edu abriu os olhos, o seu quarto estava iluminado como nunca estivera um dia. Os raios de sol que entravam pela janela e refletiam na parede acima de sua cama, produziam um efeito visual onírico, que fez Edu, por um instante, imaginar-se num sonho estranho, mais agradável. Sentia uma disposição nova. A febre, as dores, a lividez do rosto - sintomas de um mal que o prostara há duas semanas - tinham, de súbito, desaparecido. Num salto ficou de pé e deixou-se invadir pela   luz da manhã. Espreguiçou-se, deu um longo bocejo e foi ao banheiro. No espelho viu um rosto que, se não estava corado, manifestava uma recuperação milagrosa. "Quero sair, aproveitar o dia de sol e ir à praia"! - Pensou Edu em menos de dois segundos. Feita a higiene matinal, sentiu uma necessidade de comer. Não era exatamente fome, mas uma espécie de condicionamento que o impelia para a cozinha, onde encontraria sua mãe de fofoca com d. Irene, enquanto preparavam a mesa do café.
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Que noite, Leitores!

Patrícia, uma estudante de pedagogia da UFPE, conheceu Ricardo na xerox defronte ao CFCH, onde estudantes e professores faziam pouco caso dos direitos autorais. Com um semblante tenso, revelando impaciência e preocupação, a menina esbarrou acidentalmente em Ricardo, numa tentativa desesperada de ser atendida rápido. O esbarrão derrubou a pasta de textos que ele manuseava. A moça, constrangida, abaixou-se para ajudá-lo a recolher os papéis, e então Ricardo pôde sentir o perfume suave que ela usava. Agachados, seus rostos quase se tocaram e Patrícia sentiu um frêmito que lhe despertou um desejo que parecia esquecido... André, o seu noivo, já não lhe abrasava; e os beijos e os carinhos que trocavam eram, há muito tempo, como preencher formulário de repartição. Ricardo, que cursava filosofia, tinha um ar de moço de família, de um cavalheirismo que dificilmente se encontra nos jovens; mas não se enganem, tudo isso não passava de tática de sedução. A maneira como deu a mão para que a moça

Visão do Olimpo

Angélica era daquelas moças que indo ou vindo fazia os garotos suspirarem nos corredores da ETFPE. Genésio, o astrólogo de nossa turma, sempre cheio daquela superioridade de quem conhece a natureza humana a partir dos signos do zodíaco, vaticinava: "O sol em sagitário e a lua em escorpião torna essa menina irresistível e perigosa. Que os astros nos protejam de sua graciosidade". Para o nosso grupo de rapazes mirrados, a deusa das salas do Bloco B era como um sonho irrealizável. Era como pas sar em Físico-Química sem filar. Não bastasse a beleza de Angélica a intimidar os mais destemidos, ainda havia o brutamontes de seu namorado (que  lembrava o herói Sansão, embora tivesse nome de imperador romano),  a dissuadir qualquer ímpeto insensato de aproximação. Meros mortais, como eram os rapazes de nosso grupo, só podiam admirar à distância aquela beleza perigosa e inacessível. Numa manhã chuvosa, quando o Recife parecia destinado a se afogar com tanta água

O Encontro

Diógenes sempre se caracterizou por um ceticismo sarcástico que os detratores chamavam apenas de estupidez afetada. Deixarei aos leitores o julgamento do caráter desse amigo que em tom de pilhéria chamávamos de O Filósofo. Alexandra era como um dia de aniversário. Colorida, feliz e animada. Não havia grandeza que não se rebaixasse diante de Alexandra. Tinha todos os namorados que quisesse ( quase sempre queria todos) e não havia desejo, mesmo aqueles impossíveis , que nossa Imperatriz não satisfizesse. Quando Alexandra cruzou com Diógenes no corredor da ETFPE, ele a ignorou com uma displicência ofensiva para a moça. Perguntou à Pérsia - amiga de pouco tempo e de uma submissão comovente - quem era aquele rapaz de cabelos desgrenhado e de aparência desleixada que ousava desmerecer sua presença imperial. A amiga disse tratar-se de Diógenes. Tinha fama de sujo e de esquisito e era alvo de gracejos porque apresentava comportamentos estranhos. - Comportamentos estranhos? - Per

Amiga é para essas coisas

Amiga é para essas coisas. Não havia fim de tarde em que Denise e Valquíria não se encontrassem no hall do edifício para, juntas, fazerem a caminhada no parque de Águas Claras. A amizade não era antiga, tinha uns dois anos, e começou pelo fato de ambas serem esposas de funcionários do Banco Central (embora de cargo comissionado). Em pouco tempo descobriram afinidades e se tornaram amigas a ponto de trocarem confidências da vida conjugal. - Não sei mais o que faça para despertar o Ricardo - Lamuria-se Denise para a amiga Valquíria. - Amiga, não pressione tanto o seu marido - Contemporiza a companheira de caminhada, e continua - Mudar de função no trabalho, especialmente num cargo de mais responsabilidade, exige um tempo de adaptação. Logo logo, vocês voltam aos melhores momentos. - Sei que não tenho mais 17 anos, quando nos conhecemos; mas ele também não! Mesmo assim, ainda sinto a mesma volúpia adolescente. – Denise solta um longo suspiro e como se estivesse